sexta-feira, setembro 26, 2008

Deaf Dance

Cambaleando na infinita dança
em que somente a alma se cansa...
Nunca o corpo ou o coração,
nem sequer a razão,
sentem o cansaço que advém
do ininterrupto vai-e-vem
em que vamos vogando...
Categoricamente insinuando,
mas não concretizando,
o calor que vem, quando,
ambos entramos na música
e ficamos, como se fosse tísica,
os dois na mesma sintonia...
embrulhados na cacofonia
em que as batidas
são, apesar de tudo, reprimidas...
para não abrir brechas
às traiçoeiras flechas
que tanto nos levam,
como num foguetão,
do céu ao inferno...
da doçura a um fel aparentemente eterno...

Hospedeiro hospitaleiro

Fazer delete e reboot...
cagar e dizer bute...
siga a próxima saída,
venha a próxima atrevida...
Pode ser uma escolha...
Mas p'ra mim a folha
ainda não começou a cair...
Ainda está p'ra vir
o Outono deste sonho...
é ainda no Verão que ponho
as minhas mãos no fogo...
ardente como o sol no Togo,
apostando que ainda é,
e isto com toda a fé,
a nossa primeira Primavera...
Ainda a domar a fera
que dentro de nós dois impera...
Que nos deixa bera
um com o outro...
Apesar de nem um nem outro
saber muito bem o porquê
do que sente e vê
quando o olhar se cruza...
Uma subtil mão que abusa
e que lentamente se aproxima,
outra escrevendo a mais bela rima
por ambos desejada mas não vista...
antes apenas antevista...
Um sentimento inatingível,
qualquer coisa indescritível...
Que apenas se pode sentir,
por ser impossível definir...
Como um honrado okupa
que desvendou, á lupa...
qual o melhor inquilino
para escutar o seu trino
e aceitar o seu incómodo,
como se fosse, de facto, cómodo...
Assim vives tu, em mim...
Sem razoável ou aparente fim,
mas na esperança, que, enfim,
possas voltar a dizer sim...

quinta-feira, setembro 25, 2008

Estrela Polar

Como estrela ofuscante,
como um sol flamejante
que queima a vista,
assim busca o artista
a sua inspiração...
obliterando a visão
e confiando cegamente
no que não lhe mente...
o seu interior pulsar,
a sua mente, ao pensar...
por demais forte
para que não corte
todo e qualquer outro
interesse, aquele e o outro,
que rotineira e diáriamente
tem que fazer, maquinalmente...
quase de forma inconsciente,
pois o seu toldado olhar
apenas pensa em levitar...
partir para distantes paragens...
onde consegue ver imagens
de novas aventuras,
experiências e doçuras...
promessas de mudança
e uma gentil nova dança...

quarta-feira, setembro 17, 2008

Sonho Saboroso

Ao escrever o meu sonho...
devagar o componho...
saboreando o seu sabor soberbo
por vê-lo, apenas, viver no verbo...
por apenas no papel aparecer...
visto só aqui o ver viver...
só aqui poder estar perto de ti...
poder imaginar o que não vivi...
Fantasiar novos céus,
flutuando nos cabelos teus...
como se fosse Aladino...
perdendo todo o tino...

terça-feira, setembro 16, 2008

Madame Butterfly

Sempre que penso nela
e em como não a tenho,
corro doido p'ra janela...
Pois sabendo que não ganho
o seu calor e amor,
nada mais importa...
Toda a vida que for
será mesquinha e torta,
de alegria desprovida,
sôfrega e triste existência,
não seria uma vida...
Seria precisa demasiada paciência
para novamente aguentar
todo este procurar....
Até finalmente encontrar
alguém a quem amar...
que valha mesmo a pena...
Que entenda a cena,
luz, cenário e personagem...
que me faça sair da vagem
em que, como casulo
entrei de rompante, num pulo,
para não mais sair
até te ter encontrado...
Agora sim, sarado
e confiante no porvir...
por ter quem me faça rir...
por ter quem me faça sentir...
por ter a quem não mentir...
Por novamente acreditar
em sentir... sair e amar...

sexta-feira, setembro 12, 2008

Se não soubesses...

Se soubesses como influencías
todos os minutos, horas e dias
que vou vivendo...
por pouco sobrevivendo...
Se soubesses
todas as preces
em que, humilde, cresces,
qual rosa florida...
não antes do tempo, abatida...
mas sim plena, renascida...
Se soubesses como sou faminto...
Ainda assim não minto
e digo que aceito migalhas...
amizade por entre as falhas
dum amor que me mantenha
quente, com eterna lenha
para queimar, para sonhar...
para delirar, para pular...
Se soubesses tudo
o que me faz mudo..
será que ainda assim
teria o mesmo fim,
aparentemente inevitável?
ou não impressionável
da mesma maneira...
sobre a bandeira, caveira...?
Se não soubesses o que me cansa
continuaria a ter esperança...
Acreditaria que deitavas a trança,
por acreditar na mudança
dos teus sentimentos...
e dos meus constrangimentos
que, sem fingimentos,
mostro em momentos...

Charmed in the house of Love

Tonight I'm cryin'...
I feel like dyin'
and not about you and me...
just about the you, in me...
I'd said: "never again
will I sucumb to this sin!
None will ever enter,
again, my centre,
without my say so...
be maiden or ho!"
Nothing but a lie...
The blind sight of a thigh
once again takes me there...
where I can only stare
into her warm, kind void,
just like an android
which only purpose
is to care for the rose...
as if nothing else matters...
and all else, just shatters
below this monstruous wave...
as if trapped in the cave
of Plato and Socrates...
Where no one sees
past the wall of despair...
because it's not fair
to live a full life,
be the fight of love or knife,
without someone to share
it with... just not fair...
I'm not mad...
just a little sad
to see, that once again
I got caught in the jaws and finn
of the devouring shark...
no hasty knowing of the dark...
but always this grim feeling
of always soring... never healing...
Love is a bitch...
There's no escaping the witch...
it's mighty spell
as us all thinking we're well,
While we're just agonizing...
in pain thriving...
Eating ourselves up...
Drinking the same cup
to get that familiar sense
of, unexpected, charming suspense...
Where all is new,
to those lucky few
who can make it there...
Floating on air...
But it's always far
from you and your charm,
your heart or your arm...
I miss you already...
Never as steady
as when I'm by your side...
With nothing to hide,
no fears, cries or tears...
just true blind bliss,
not a single hiss
distracting my eyes
from your laughs and sighs...
Oh My... Oh My...
How I feel high
on your presence,
or even with the sense
that you're around...
I only listen to your sound...
And I'm tired of being this way...
always a love blind stray...

segunda-feira, setembro 01, 2008

Morto à nascença

De novo a fome de sofrer...
de novo a sede de escrever
como forma de acalmar
esta tempestade em alto mar,
em que náufrago, me afogo...
Emolar este fogo
que tomou conta de mim...
deixando-me novamente, assim...
desiludido e descontente,
por esta sensação premente
que me aperta o peito
não poder, com efeito,
ser libertada e partilhada...
Imaginei um céu estrelado
onde, como que entrelaçado,
o nosso destino acontecesse
e o amor crescesse...
Fizeste-me descer da nuvem,
onde estavas também,
para o mais profundo inferno...
onde mais nada é terno,
nem feliz ou esperançoso...
Agora que parecia, viçoso,
que novo dia floria,
nada acabou por nascer...
nao será o que poderia ser...