sexta-feira, março 31, 2006

Fusão/Função

São dias de chuva, mas até podiam ser indefinidos. Com todo o estabelecimento do nada. Sair de um lugar quente, onde os cubos de gelo estão em nós. Por dentro de fora e cá fora adentro. Correr a uma velocidade estonteante que leva os membros a amar a dor horrenda. Com ossos a segurar a carne, a força de os largar simultaneamente exprime toda a banalidade do ser. Desintegrar a matéria. Peço aos deuses que me removam da existência limitada. Desejo pertencer a algo bem maior. Sublime. Dar oportunidade às células de escolherem entre os musgos ou nuvens, a água ou terra perfurada por cegos. Cantar de noite ou viver no silêncio dos crentes curados. Posso contar tudo o que o nada me diz. Rasgar os medos do insignificante, parecer desnecessária e serradura primária. Orgulho de assim ser.

quarta-feira, março 15, 2006

Requiem for a dream

Hoje, assim como nas últimas semanas, estás presente em tudo o que faço, não conseguindo esquecer o teu sorriso travesso e enigmático, de quem guarda os seus segredos para si própria, antevendo possibilidades infinitas de conhecimentos e vivências interessantes. Hoje, como nas últimas semanas, espero pela hora em que, depois do jantar, poderei estar contigo. Olhar-te e conversar um pouco enquanto mais uma vez te espantas com a facilidade com que bebo cerveja, mesmo depois do café. Hoje, assim como nas últimas semanas, questiono-me se o teu sorriso amigável era resultante da boa educação e simpatia inerente a quem está atrás do balcão, ou se também sentias uma estranha química no ar...
Hoje, ao contrário das últimas semanas, já não me preocupa saber se tens mais ou menos de 18 anos como forma de validar e florir sentimentos ou de os matar à nascença.
Hoje já nenhuma destas coisas me preocupa... hoje descobri que fazias 18 anos pra semana... hoje descobri que os meus sentimentos estavam a crescer mesmo contra a minha vontade... hoje descobri que se ainda me restava alguma crença nesse Deus que dizem ser bondoso e omnipotente, essa réstia desapareceu, porque hoje descobri que também tu desapareceste, vítima, como tantas outras, da nossas estradas assassinas.
Se a vida não é justa, a morte e os deuses ainda o são menos.
Apesar de ter sido durante tão pouco tempo, adorei conhecer o que me foi possível, és realmente alguém mt especial e diferente, Sara... talvez tenha sido por isso, pois como diz o ditado, only the good die young... talvez também essa a explicação porque o mundo está a merda que está. Fazes cá falta, seria concerteza um mundo melhor contigo nele.

sexta-feira, março 10, 2006

rumo ao Paraíso


Tremo, só por te dirigir a palavra...
Devo-te tanto, meu conselheiro e mestre
que me mostras o mundo como eu quero ver

Da tua terra tantas vezes senti o cheiro
imanado das tuas cordas vibrantes
e quantos sabores e rodopios senti
com aquele formigueiro que dá prazer e choro

Deixaste lágrimas de notas
e é de água que é feita a vida
ès maior que a mais alta das montanhas
onde o sol se põe mais tarde
e onde a vista se encontra perdida

sempre viverás no meu coração Homem Grande
e nas raizes que desafiam a seca
o teu espirito será condutor.

Com respeito guardo a herança q nos deixas.

Que da tua esfera celeste nos cantes
aquilo que somos e que chegaremos a ser.

Um até breve deste teu humilde ouvinte
que chora a tua perda,
e assim escreve em teu louvor.

Ali Farka Touré para toda a eternidade...


ps: Obrigado Mário por me teres concedido o privilégio de conhecer o Ali.
Foi deveras impressionante fazer uma pesquisa no Google, por imagens do monsieur Ali e ir dar justamente ao teu blog. um abraço

Adiamento (Álvaro de Campos)

"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir..."

Hoje? Não!

quinta-feira, março 09, 2006

Rodopio de laranjas.

O cérebro quase a rebentar com contas de cabeças! Restam apenas os ouvidos, muitas vezes adormecidos por palavras que qualquer vassoura adora, para ouvir os sons de um CD que o gira-discos lambe inúmeras vezes. Sorrio. O corpo curva-se numa dança que só ele sabe. “Fight to keep your mind.”

terça-feira, março 07, 2006

Boa Onda

Na onda da poesia,
na senda da acalmia
dos meus sentimentos,
vivência dos momentos
porque vou passando,
para sempre aguentando
o que vem e vai,
sem pranto nem ai...
Rocha perene e resistente
como coração que não sente,
numa couraça que mente
para que nada fique diferente
e sempre se imortalize,
aquém e além do Belize.
A sede de escrever...
a fome de rimar...
a vontade de sofrer
ao rabiscar por amar...
Quão bela é a poesia
quando não é azia
e sim o puro doce mel
de quem não tem fel
para destilar...
destroçar...o que continua a amar!