terça-feira, janeiro 31, 2006

Os servos

Que argumentos repelem a certeza de uma razão? Se há um ninho de ovos numa árvore de ramos brancos é possível desenhar uma mãe de garras afiadas. Os números surgem de uma maneira serena. Nuns olhos de pestanas longas, o gelo prolonga a neve que te arrefece as faces, mas que podes provar. Correm, completamente atordoados, os fluidos servidores da biologia vacilante. Perdem-se segundos a desvendar o que se cozinha levemente na chapa. Uma corrente de água ou de metal pode unir-te à árvore, mesmo que a preferência se agarre à vizinha.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Um dia no paraíso

Um dia no para�so

No meu primeiro dia no paraíso...
surgiu-me, como um aviso,
algo completamente novo
e desconhecido do meu povo...
Uma sensação premente,
quase imperceptível
mas sempre audível,
impelindo-me pr'a frente...
No sentido da baliza,
como quem avaliza
o destilar do fel...
saltando do papel
para o domínio virtual.
É no entanto real
tudo o que seria anormal
há dez anos e tal...
Porque nem tudo
foi assim tão sortudo
como este infinito salto
no cyber mar alto...
Apesar da evolução,
continua, pois, a velha canção...
Love sick fortune's fool
with a pen as a tool!
But I still see a light
burning, oh, so bright,
and time as taught me
that the sun always breaks free!

(soundtrack by Jack Johnson)

quarta-feira, janeiro 18, 2006

...Melenásia...

os anciões e os mágicos reuniram-se para
calcular a geometria das fundações da torre.
A torre é construída pelos homens e por crianças que ambicionam
deixar de o ser.

A lenda diz que outrora uma mulher fugiu ao seu marido que mais
uma vez a ameaçava de pau erguido por ela não se submeter aos seus caprichos. após uma longa perseguição a mulher subiu a uma árvore muito alta e atirou-se desafiando o peso da terra, o homem sem meias medidas, acelerado pela vontade imensa de usar o pau, precipitou-se também acabando estatelado no chão. A mulher antes do voo atou uma liana em cada perna e escapou ao prejuizo da queda.

A partir daí as mulheres da aldeia estabeleceram um ritual que consistia na construção de uma torre para se lançarem desta atadas por lianas, prestando homenagem ao acto heróico descrito na lenda.
Como algumas susceptibilidades foram feridas, já que as mulheres usavam saias e durante a queda partes menos próprias eram desvendadas pelo sol, a tradição passou para os homens. O rei dos homens era aquele que saltava do ponto mais alto. E quem não saltava nunca chegava a deixar de ser criança.

O rei dos homens empurra o seu filho de idade 12
com os pés enrolados em lianas, quando vê que a altura
se transforma no medo do solo.
Deposita tanta confiança no rapaz
como em si próprio porque são feitos da mesma carne.
O rapaz percebe que já não pode evitar a queda do
tamanho de três elefantes empilhados, e impulsiona-se
para a frente como o pai tanto o relembrou antes da subida.
O movimento, após o esticar da liana, é o de um pêndulo acompanhado pelo
amortecimento provocado pelo quebrar dos ramos, que o jovem, meticulosamente havia colocado no sítio(gol) de onde saltou, de maneira a que a liana tivesse que os quebrar ao ganhar tensão.
A cabeça do rapaz atinge o solo rodeada de cânticos e danças tribais
que asseguram a sua passagem para o novo estádio.

O rapaz é agora um homem.

Como três crianças, tinham caçado um javali, no final do dia as mulheres prepararam um banquete.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

A incapacidade de uma vela

Um gato gordo e cinzento seguiu-me pelas festas. Estes felinos jeitosos de pêlo macio tocam as folhas secas, que escondem todos os pássaros. Arrogantes. Dores de pernas esticadas por um mundo secreto. Qualquer artéria tenta adormecer com o querer intenso e doentio dos nervos. Os nossos temíveis doces corredores que, por algum acaso, nos martirizam com sinais. Químicos amados, tendes sabor de carne! Um pé de curvas tortas e o outro de cera morta.