terça-feira, março 03, 2009

Desconfiadamente confiando....

De si, às vezes, pouco seguro,
de alguns demais, ainda mais inseguro,
o viajante não teme o escuro...
Saltando sobre cada muro
que se lhe depara no caminho...
Não desconfiando do vizinho,
mas mantendo apenas o carinho
próprio de quem se sente sozinho...
Um olho no burro e outro no cigano,
por vezes ciumento e insano,
outras desprendido e magano...
Muitas melodias no mesmo piano...
Adequando com destreza a canção
consoante o ouvinte seja irmão,
amigo, miúda, ou o seu coração...
Um mestre da representação...
Talvez por isso conhecedor
das actuações ao seu redor...
Sabendo ou não acreditar no amor
que os demais professam ao professor...
Ele que também gosta de ser ensinado,
tanto pelo doutor como pelo agarrado...
Não desdenhando o que lhe é dado
mesmo que disso esteja cansado...
Aceitando um elogio com cortesia...
não o acreditando em demasia,
apenas grato pela simples simpatia
que lhe permite partir a apatia...
Deixando-se suavemente embalar,
mas não se deixando enganar...
Pois apesar de todo o seu pesar,
já sentiu nas costas a faca se cravar...
E assim, nestes dias, tem cautela...
Acende a luz e apaga a vela,
para que possa pintar na tela
quem de verdade merece estar nela...